Vazios
Antonio Miranda Fernandes

São tantos os lugares vazios...
Tantas as pontas de dedos em mãos abertas
A tatearem paredes frias.
E travesseiros não amarfanhados
Recostados nas cabeceiras de camas...
Falta o aroma dos cabelos do homem...

E são ausentes os abraços
A colar peito no peito...
Nenhum murmúrio que não o seu...
São desmaiadas as falas além dos gemidos,
E nos ouvidos as súplicas aos ecos.

Quando a noite se veste de organdi,
As mulheres amam e consomem...
Aconchegam...
Ninam rostos imaginários no colo quente,
E murmuram acalantos
Com as vozes esquecidas do cansaço.

Sonham no emanar de águas mornas,
Vindas de dentro,
Do mais profundo de sí,
Eclodidas da cava na entrega sublimada.
Depois...
Entristecidas...
Adormecem na enchente do regaço,
Em fuga da dor dos vazios.