Urgente
Antonio Miranda Fernandes

Ele ajoelhou e abriu os braços para o totem azul que nada disse.
Cansou!
Escancarou o grito profundo para o mito...
Desacreditou!
Então ele
Abriu a concha do peito e bebeu nos ventos o pólen...
A cicatriz...

Deixou morrer a urgência do barco na água.
Sedento ele engoliu todos os rios e mares...
Fechou o coração à sedução das aventuras...
Adormeceu seco de lágrimas
E deixou rasgaram-se as velas desamparadas.

À deriva ele abandonou a inflexibilidade das palavras.
Desnudou as margens e vestiu a foz do silêncio na sucessão dos anos...
Ele percebeu que urgia semear searas...
Que era urgente reencontrar a liberdade do riso...
Reinventar a alegria...
Naufragar certas palavras ferinas, ironias e raivas...
Alguns poucos lamentos e muitos punhais.

Ele fechou as mãos sobre o tempo preso por pétalas
Que se soltavam dos gestos pendentes antes que se fizesse tarde para a volta...
De onde nada volta...
Nem a revolta...
Nem por favor...
Nunca mais.

Ele sentiu que era próximo o tempo de parar...
Os momentos de permanecer...de buscar os beijos cúmplices...
A maciez do olhar que ficou em algum lugar...
Que era urgente o amor.