Tormenta
Antonio Miranda Fernandes

O oceano quando se zanga faz tropel de garanhões ensandecidos
E os espatifa impiedosamente contra as rochas acendidas e sangradas
Num funeral de cremação do dia que agoniza ferido de seus próprios punhais.
As vagas e os ventos mostram as bocarras negras e os dentes das ventas...

Ele aguarda as gaivotas famintas se arriscarem por um peixe e as aprisiona
Entre as crinas espumantes, no odor da superfície ardente de lágrimas
E urros de feras, e as devora no festim sobrenatural onde uivam os animais,
De chagas e entranhas expostas à flagelação da salmoura na tormenta.