Seios náufragos
Antonio Miranda Fernandes 

Na cinza onde está imersa
A tarde, apenas visível o sorriso
Desgarrado dos teus lábios róseos.
Deleita-me, ainda, o sabor do néctar,
Colhido no corte aberto a diamante
De fogo.
Intuías meu desejo sonâmbulo enquanto
Tecido e pudores despias.
Nua, devoraste a carne exposta.
Permaneço na doçura de raiva
Sem ódio que me fecha as pálpebras.
Rangem-me os dentes.
Na língua ainda trago o sabor dos bicos
Dos teus seios náufragos no ardor
Da minha sede.