Nesta noite
Antonio Miranda Fernandes

Nesta noite,
A carne do mais lindo poema aberta,
Como se abrem as flores no cio,
Para os beijos das borboletas e dos colibris,
Ao receberem as carícias vernais do rocio.
Nesta noite,
Tuas mãos,
As pontas meigas dos teus dedos claros,
Cosendo talhos,
Que os espinhos dos caminhos estreitos,
Por onde andei e não eram os meus,
Abriram no meu peito.
Nesta noite,
O reencontro das águas das nossas fontes,
No fluir sereno do amar eternamente.
Que todas as membranas estremecidas
Pelas carências,
Transbordem-nos as ânforas das essências,
Nesta noite.
Nesta noite,
A singeleza do teu corpo debruçada,
Sobre a espera do meu,
Entrando-me profundamente.
Nesta noite,
Na luz do teu olhar as estrelas desabadas,
Que o meu olhar colheu,
Quando foi procurar-te no braseiro da solidão.
Nesta noite,
Meu amor, apenas tu e eu.