Míseros, algozes, covardes e santos
Antonio Miranda Fernandes

Quando sinto minha alma cativa
Feita em pedaços cobertos por um pano negro,
Avivo o fogo na forja dos sentires,
Derreto letras esparsas, que encontro pelas gavetas,
No crisol do coração e fundo uma adaga.

Aos gritos dela pedindo socorro
Rompo e entro pelo meu peito adentro
Como uma fera de olhar sangrento
E caninos arreganhados
Para enxotar o fantasma da solidão.

Nada posso mudar...
Absolutamente nada...
Tampouco o quero...
Nem na fé dos míseros
Nem na impiedade dos algozes
Nem na indiferença dos covardes
Também não nas promessas dos santos...
São paus nascidos tortos...
Ocos, mas sem ecos...
Inócuos na maturidade da vida.

Escrevo para unir frangalhos e cantar o meu canto
Porque sou o meu poema...e o amo em silêncio...
Porque eu sou o meu instante,
Tem validade em mim de eternidade,
Portanto vai durar enquanto eu durar.

Com o sedimento das ofensas
E o pó das feridas dos passos nos descaminhos,
Moldo a argila para aterrar alguns rios secos
Que a vida, caçadora a cada momento,
Teima em talhar no meu rosto moço.

Acendo os lampiões das metáforas e suturo o peito.
A alma confiante, refeita, nua e sem medos, espreita
A pajelança de rasgar em tiras o pano negro mais uma vez.

No oposto do espelho onde me vejo,
Aflora um sorriso zombeteiro em agradecimento
A um totem no vazio disperso.
(que desconheço completamente)