Mar calado
Antonio Miranda Fernandes

Aqui, na paz dos cheiros adocicados
do porto, sobre a nau que dança uma
canção lenta e longa, presa a sua 
amarra, num mar quase calado, ouço
o chuvisco dos teredos em ebulição
no casco. Vez ou outra uma estrela 
dourada se solta do céu e mergulha
no horizonte prateado. Quase posso
ouvir a fervura no estremecer das
águas. As estrelas libertas não farão
falta ao céu. Talvez ele nem perceba,
mas aquecerão o mar que sente frio.
Eu, sentindo o oco da minha solidão,
navego com os pensamentos para muito
longe, em busca de carinhos quentes
e, aquecido com afago da amada, meus
olhos se sentem sonolentos no estofo
da maré dos sentimentos em remanso.