Força e festa, salmoura e raça.
Antonio Miranda Fernandes

Ele tinha no peito a força e a festa.
Merecia viver e amar como qualquer outro.
À véspera da ausência, a fuga urgente e fria,
Com passos sós... passos de estrada...
Andarilho partia sempre, como partem os dias,
Mesmo pra lonjura do que nada lhe dissesse.

Ele tinha na testa salmoura e raça.
Não levava bagagem... somente o preciso...
Numa sacola surrada:
Alguns cantos, a viola e fé rareada,
Um quase nada...
Pouca valia se transbordasse,
Alguns curativos que existir não é liso,
E resistir não é brincadeira,
A tristeza é a outra face da alegria,
E a morte, se a sorte míngua, não é rejeitada...
Não é caçoada...é a outra ponta do ser.

Fora desencontros na volta calma, e
A dor que achar mesmo que não queira.
Não sem intento a contento,
Não ser por ser, mas por querer...
Por ser bravo,
É seguir sem curvar o corpo na subida,
Que adiante é a descida pra ribanceira.

Massa de gente na várzea da alma.
A colheita? quase nada, semeadura dura...
Algum centeio na mistura do pó e canseira.
É a lama da fome, dós e soluços ingratos.
Viver não é zombaria.
Ao covarde dos rebuços resta o fel do joio...
Por não ser igual...joio...
Joio só.

Ele coragem...
No peito a força e a festa contida,
Merecia viver e amar como outro qualquer.
Por ser de seu, comia num outro prato...
Bebia em outra taça...
Se lacrimar soubesse verteria salmoura e raça.
Mesmo com alegria escassa...
Mesmo com o corpo sangrado e lasso...
É preciso conter os reclamos do cansaço,
É preciso cuidado... suportar os desenganos,
A vida não é sorrateira, mas sem dizer nada,
Ela passa.