Delito

Antonio Miranda Fernandes

Não vejo o meu amor como um delito.
Nada a mim importa o amar dos outros...
Cada qual ama à sua maneira:
Alguns aos gritos
Outros quase silêncios para serem mais bem ouvidos
Arfados junto aos lóbulos das orelhas.

O meu sentimento não segue normas pré-estabelecidas.

Tenho o meu amar em tempo de ponteiros paralisados
Numa eternidade querida.
Sinto a vida na ponta dos dedos quando toco lábios febris.
Dentro dela esses momentos
Que de mim se afastam quando os procuro,
E me envolvem,
E me cobrem, e querem me engolir quando sou fuga.

Esses momentos que se fazem fera
Quando me deixo caça desalenta
E envolve com tentáculos que me dominam.
Não quer me consumir com seus dentes,
Apenas agarra, saliva em minha boca e me alimenta.

Cruel ela de mim se distancia quando a quero,
Mas acima de tudo me cura.
Que eu seja, então, criminoso por tão amado delito
Nesta intensa vontade de procura,
E nela prisioneiro por toda a vida.