Como é bom...
Antonio Miranda Fernandes 


Como é bom... 
Voltar para casa, abrir o portão
Tirar os sapatos e pisar o chão

Como é bom...
Descobrir nova rosa no jardim
Atrai-la como a cabeça amante
Ousada volúpia de enamorado
Aspirar-lhe aroma virgem enfim
Seduzido ao deleitoso instante
Extasiado com olhos fechados

Como é bom...
O gargalhar à-toa como criança
E o saltitar declamando versos
O bulício dos pequenos colibris
O balançar na rede da varanda
Assoviando solfejos dispersos
O cantar da sentinela bem-te-vi

Como é bom...
Descerrar ao mundo as janelas
Folhas andejando pela calçada
O farfalhar de cortinas amarelas
Pelo querer da aragem soprada

Como é bom...
Da nuvem passageira o dourado
Do entardecer, no peito, a brisa
O aroma da tarde pelo gramado
E o vento esvoaçando a camisa

Como é bom...
Chuveiro morno bem demorado
Bronze busto de mulher-menina
Escancarado livro sobre a mesa
O passear das mãos pelo teclado
Do langoroso piano em surdina
E dueto crepitar da lareira acesa

Como é bom...
Tremeluzir de estrelas na vidraça
Tigela de sopa na fria madrugada
A garrafa deitada, vazia de vinho
Corpo, buquê, aroma degustados
Cor carmim nos lapidados da taça
Colchonete no chão e almofadas
O sono que vem vindo mansinho
E o sonhar sonhos abandonados
Como é bom...