Cata-ventos
Antônio Miranda Fernandes

Lá no alto enevoado dos olivais
melancólicos cata-ventos giram
movendo moinhos que moem
grãos amadurecidos na solidão
ora esmagados na dureza da mó
viram farinha para bolos pascais.

Os arames que ventos dedilham
assoviam nostalgias que corroem
as curvas de nível na face-chão...
rugas transmudando viço em pó.

Parece que assim, entre si, falam 
os moinhos moendo isolamento...
lembram falas de distantes baleias
ou ainda velhos gonzos de portas
quando conversam com janelas.

No avelhentar o mundo arrastam...
e o monte onde se deita o sol lento
tal corcunda da enfastiada aldeia
atrasa o porvir das horas mortas
e as aflições que cavalgam nelas.

E as sombras no alto dos olivais
se despojam da aparente calma
em negras cruzes se agigantam...
maltas nos relvados se amontoam
e fundem-se à noite quando se faz.

Então ventos assoviam ainda mais
uivos que gelam o sangue da alma
gemidos girantes do Coral cantam...
e realejos que em uníssono entoam
o cântico negro no alto dos olivais.

 

N.A. Búzio ou Alcatruz. Pequeno objeto de barro, por vezes com a forma de uma cabaça, contendo um só orifício, que se coloca na ponta das vergas das velas dos moinhos de vento e que, com o girar destas, produz uma espécie de assobio que permite ao moleiro calcular a intensidade do vento e a velocidade adquirida pelas velas.

Cabresto – Corda comprida ou arame que segura as varas e que serve para efetuar a amarração das velas no exterior.