Banco da praça
Antonio Miranda Fernandes

Estou nesta praça sentado num banco de jardim
E penso que ele, antes de ser o que é,
Assento de repouso e meditação,
Foi espera,
Como também o é aquela pedra que aqui chegou
Depois de muitos tombos.

Eu nele interrompi pensamentos que não serviram
Para dar de comer aos pombos.
Na minha utopia
Vim a este momento para a revoada de letras,
Que não com aquelas paridas em mim.

Eu encontrasse outras letras que me fizessem
Sentir grão de areia roubado à língua do mar,
Antes de me sentir taça de cristal partida
Para voltar a ser grão de areia,
E depois novamente taça...

Quem sabe, num dia qualquer, encontrar alguém
Que soubesse entender os meus pedaços sem
Os dispersar ainda mais,
E tampouco os remexer para juntar.

Eu continuasse tais bagos dos cachos de uvas,
Antes de ser vinho, e ele o fosse também,
Mas sem precisarmos ser pisoteados no lagar.

Eu não queria ser sozinho também neste lugar...
Quem sabe sentado neste banco da praça,
Passe, com graça, diante de mim, como vinda do nada,
Uma flor desabrochada
Consciente de que foi raiz antes de florescer.

Que nela seja primavera permanente,
E ajude-me a entender por que o inverno insiste em mim?

Nasci para ser albatroz em voo largo, porém...
Quero antes sentir o sabor dos perigos do abismo
E a força temperamental dos ventos
Como ovo eclodido nas escarpas negras...
Saber dos riscos e ter as asas dos sonhos fortalecidas.

Não almejo ser borboleta, pois teria que ser larva antes,
Arrastando-me em galhos sugando-lhes o viço...
Não...
Eu só não queria ser isso sentado neste banco,
E terminar no bico do pássaro canoro
Que trina melodia para os versos que escrevo,
E induz-me a sonhar tanto.